In A Little While

O fim do mês de Janeiro estava a chegar ao fim, em Fevereiro esperava-me um grande desafio…o regresso ao trabalho, descobrir se as minhas capacidades intelectuais estavam intactas depois do que aconteceu…ir para uma nova área era o teste perfeito, pois assim conseguiria testar se toda a informação que tinha adquirido anteriormente ainda lá estava e se conseguia armazenar nova informação…
No dia 1 de Fevereiro de 2005 regressei ao trabalho para ingressar na equipa coordenada pela Sandra Neves, que tinha como chefes de equipa a Dídia Trigueiros e o Zé Ramos que seria o meu chefe de equipa.
Quando cheguei fui ter com a Joana que me foi apresentar à minha nova coordenadora, nesse dia fiquei junto da Vanda a ver o que fazia, ela nessa altura tratava dos últimos clientes residenciais que existiam na área, era um trabalho chato de se fazer…basicamente resumia-se a inserir dados dos clientes numa aplicação…Eu como ainda não conseguia escrever, não tirei notas…mas a Vanda foi uma querida, comprometeu-se a no dia seguinte me trazer escrito um resumo das tarefas necessárias a executar…assim foi!
Da minha antiga equipa, apenas existiam 3 elementos…a Mónica Rodrigues, o Pedro Teixeira e o Zé Ramos, a Natacha que havia sido o meu “Sol” no Apoio ao Cliente também fazia parte da equipa e o Luís Coutinho que um ano antes tinha jogado comigo na fabulosa equipa de futebol que entrou no torneio da Optimus, o “Borussia D’outromundo” os restantes apenas conhecia de vista…
Foi um dia repleto de emoções…revi muitos Amigos que já não via há muito...foi bom sentir-me tão acarinhado por todos…o extraordinário era falar com pessoas que só conhecia de vista e dizia “Bom dia” virem falar comigo e sentir que tinham uma admiração enorme por mim!
No dia seguinte a Sandra disse-me para me sentar ao pé do Coutinho…ele fazia os últimos contactos ao Cliente que restavam da extinta equipa “Wellcome Call” da qual eu tinha feito parte….passei a manhã a fazer escutas de algo que tinha feito centenas de vezes…às tantas a Sandra pergunta-me se estava tudo bem? Eu respondi que sim, mas que precisava de falar com ela...
Ela prontamente me fez o gesto para ir ter com ela, chegado junto dela disse-lhe “Sandra, Eu já não consigo voltar a contactar Clientes…antes de me ter acontecido a ruptura do Aneurisma já tinha falado com o Alexandre que estava saturado de contactar Clientes e que precisava de mudar de funções…senão tinha que me ir embora…”
A Sandra respondeu prontamente, “Vais para junto da Cristina aprender a activar Empresas”, ao escutar aquelas palavras senti um misto de alívio e de felicidade.
Alivio porque finalmente ia deixar de falar com Clientes, felicidade porque ia aprender algo de novo…Eu que durante os tempos do Apoio ao CLT adorava fazer activações on-line!

Who's Gonna Ride Your Wild Horses

No dia 11 de Janeiro tive a consulta com a Dra Teresa Matias que fez uma avaliação do meu estado…verificou que a minha marcha estava óptima, que apenas tinha que trabalhar a minha mão e braço esquerdo, desde logo ela se mostrou bastante céptica quanto à recuperação da sensibilidade, foi-me dizendo que Eu poderia recuperar a mobilidade mas…quanto à recuperação da sensibilidade seria muito mais difícil….para não dizer quase impossível. Não me criou falsas expectativas, mas Eu sempre acreditei que mesmo que não recuperasse a 100% a sensibilidade, poderia melhorar o meu estado!
No dia 19 comecei a fazer Terapia Ocupacional com a terapeuta Marisa, tinha sido ela a última terapeuta ocupacional que tive antes de ter tido alta em Agosto…ela tal como Eu acreditava que podíamos melhorar a sensibilidade, ela tenha várias ideias de como podia estimular o meu braço e mão esquerda.
Começamos por trabalhar a parte da mobilidade para Eu começar a fazer os movimentos correctamente ao executar as mais diversas actividades.
No Domingo dia 23 o meu padrinho foi-me buscar a casa e foi comigo ao Hospital de Santa Maria para Eu realizar o TAC e a Ressonância Magnética, na semana seguinte tinha consulta com o professor Dr Jorge Campos para saber o resultado dos exames efectuados.
Na consulta o professor Jorge Campos, disse-me que o aneurisma tinha sido excluído e não existiam mais, que o ideal era Eu marcar uma consulta com o Dr Domingos para ele analisar os exames realizados e identificar a razão dos movimentos involuntários….
Fui imediatamente marcar uma consulta com o Dr Domingos, tive a sorte de ainda ter conseguido marcá-la para o mês de Janeiro…
Quando fui à consulta de Neurologia mostrar os exames ao Dr Domingos, este analisou-os de uma forma rápida (desvantagem do serviço publico) e também mediante a minha explicação do surgimento dos movimentos involuntários, ele receitou-me Depakine 500.
Eu ao chegar a casa e depois de já ter comprado os medicamentos, li a bula que falava em tratamento de epilepsia…nessa altura Eu fiquei alarmado e fui logo pesquisar na Internet informações sobre epilepsia, descobri que havia uma forma de epilepsia que estava relacionada com movimentos involuntários de um membro…
A verdade é que depois de começar a tomar o medicamento, aquilo que eram ligeiros movimentos involuntários, passaram a ser muito mais frequentes e intensos…

Until The End Of The World

Após a grande entrada em 2005 ao chegar a Tomar, decidi ir para Lisboa recuperar a minha vida…ainda antes de ir passar a passagem de ano à Figueira já havia falado com o meu Médico de Família, o Dr Vítor Moreira que em Janeiro pretendia regressar ao trabalho…ele disse-me “Luís tem calma, em Fevereiro já vais trabalhar”.
Tratei de fazer as malas e na quarta feira dia 5 de Janeiro peguei no carro e fui para Lisboa.
Quando cheguei já tinha o meu irmão a viver comigo e com o meu grande Amigo Bruno Silva. Nessa primeira noite em Lisboa idealizei uma nova disposição para o meu quarto, que o meu Irmão e o Bruno me ajudaram a concretizar, não queria ter nada que me fizesse lembrar o passado, queria iniciar uma nova vida…
Aproveitei os dias seguintes para tratar de alguns assuntos, o primeiro foi ir falar com a Joana Caetano da Select a informá-la que em Fevereiro já ia regressar ao trabalho e que gostaria de ir para a equipa de Acesso Directo…pois era lá que se encontravam algumas das pessoas que me eram mais próximas…ela disse-me que ia ver se isso seria possível, dizendo-me para passar lá no dia seguinte…
Fui também ao hospital de Santa Maria marcar uma consulta para a minha Fisiatra a Dra Teresa Matias, de forma a retomar a fisioterapia e a terapia Ocupacional o quanto antes…consegui consulta para o início da semana seguinte.
Na sexta de manhã voltei a ir falar com a Joana como combinado, Eu estava um pouco ansioso…a Joana disse-me que Eu iria para a equipa de Acesso Indirecto e mostrou-me um e-mail que ela recebeu do responsável da Área…o Luís Lucas, que dizia o seguinte “o Luís virá para a equipa de Acesso Indirecto porque nunca deixou de fazer parte dela…”, perante estas palavras Eu não podia recusar o meu ingresso na Equipa de Activações de Acesso Indirecto…

Nesse fim de semana combinei um café com a minha “mana” no “Peter” da Expo, para pormos a conversa em dia…
Eu já não via a Sónia à muito, as saudades eram mais que muitas!!!
Nós íamos mantendo contacto, mandávamos sms’s ou ligávamos um ao outro, mas nunca mais tínhamos estado juntos, já sentia imensas saudades das conversas que tínhamos nos nossos break’s no trabalho…
Foi uma noite em que estivemos só em locais calmos onde pudéssemos estar a conversar tranquilamente…confesso que nunca tinha escutado tantos elogios na minha vida…recordo-me de lhe dizer “miga já chega de elogios, senão tenho que ir buscar um lençol para enxugar esta baba toda!”, nunca tinha imaginado que tivesse marcado tanto as pessoas que me rodeavam, sobretudo as mais próximas…
Ela já sabia que Eu e a Lita tínhamos terminado, neste momento mais “delicado” da minha vida, ela deu-me um apoio extraordinário!!!

New Year's Day

A passagem de ano 2004/2005 estava à porta…esta iria voltar a ser na figueira da foz, como a passagem de ano voltava a ser de sexta para sábado…ficou combinado passarmos o fim de semana na Figueira, só regressaríamos no Domingo.
Eu fui de boleia com o David, voltámos a ficar na casa do ano anterior, desta vez como éramos mais tivemos que nos organizar melhor…
Eu na primeira noite, a da passagem de ano fiquei a dormir no quarto do meu Amigo Zé Pedro e da Su, coloquei o meu saco cama ao lado da cama deles, depois de todos já terem um lugar onde dormir fomos preparar as coisas na sala para iniciarmos a nossa festa, Eu pelo segundo ano consecutivo levava mousse de chocolate, mas mais uma vez tinha ficado dura!
Depois de comermos, estivemos a cantar, este ano havia karaoke… que belas vozes…não sei como nunca ninguém se lembrou de participar num “chuva de Estrelas”...depois do karaoke havia a mítica lerpa, o David deu-se ao trabalho de levar €5 em moedas de um cêntimo, mais uma vez Eu e o Miguel enchemos…só para não variar…as cartas pareciam não quererem nada comigo, seria um bom prenuncio? Como diz o ditado popular “Sorte ao jogo, azar no Amor” só o futuro o podia dizer…
Trinta minutos antes da meia noite era a altura de enchermos as nossas “botijas de oxigénio” e irmos para a marginal ver o fogo de artifício e comemorar a entrada num novo ano! Festejei de forma efusiva a entrada neste novo ano junto de todos aqueles que mais gostava!
Na manhã seguinte, havia jogo de futebol no campo sintético que existia na praia, eu levei todo o equipamento, no entanto esqueci-me das sapatilhas …de forma a ultrapassar este contratempo, vesti as calças de pijama e calcei as minhas botas…
Foi um jogo muito divertido, fizemos duas equipas mistas, eu era ponta de lança…para não correr muito…dos melhores pontas de lança da altura apenas me lembrei do ponta de lança do Inter de Milão, o Adriano…e comecei a dizer em tom de brincadeira “metam a bola no Adriano, que ele resolve”, começaram logo as piadas por causa do nome que escolhi...recordaram-se todos do macaco Adriano….a verdade é que não resolveu…teve alguns pormenores, mas a jogar de botas também não ajudava!
Depois do jogo o Pedro Anjos e o Hélder deram início a uma nova tradição….ir mandar um mergulho no primeiro dia do ano!
Como só alguns ficámos para o dia seguinte, já havia um quarto para mim, coincidência das coincidências acabei por ficar a dormir na mesma cama do ano anterior…confesso que quando me deitei nessa noite senti um aperto no coração…seriam saudades, talvez…porque ainda não havia esquecido a Lita, 5 anos não se conseguem apagar de um dia para o outro.
No Domingo fomos almoçar a Buarcos e depois seguimos viagem de regresso, tinha sido mais uma grande passagem de ano!

Vertigo

A sequela que começou a ser ligeiramente notória, apenas se notava na altura das refeições, quando pegava nos talheres o meu braço esquerdo tinha uns pequenos movimentos involuntários…
A minha mãe ficou logo preocupadíssima…nessa altura o meu primo Paulo e os pais estiveram em Tomar, a Célia disse à minha mãe para eu ir um dia com a namorada do Paulo falar com a fisioterapeuta dela, saber qual era a opinião dela…assim foi, fui para Lisboa e fui com a Célia e a Sofia ao hospital onde ela fazia fisioterapia que ficava no Bairro Alto falar com a fisioterapeuta...
A fisioterapeuta após fazer uma avaliação do meu estado e ao verificar a existência dos movimentos involuntários, disse-me que antes de começar a fazer fosse o que fosse, o melhor era ir ao meu médico para verificar se estaria tudo bem… nessa altura o meu padrinho marcou uma consulta com o Professor Dr. Jorge Campos, fui a essa consulta já em Dezembro, era a primeira vez que falava pessoalmente com o professor, que se mostrou ser uma pessoa extremamente simpática e afável, após lhe explicar o que se passava o professor exclamou “temos que ver isso!”, perguntando de seguida à sua secretária, a dona Rosa quando é que ele estaria de banco no hospital, ela respondeu que era no Domingo dia 23 de Janeiro de 2005…
Ficaram então marcados os exames (TAC e ressonância Magnética) para esse dia, de forma a se puder constatar o que realmente se passava…
Entretanto regressei a Tomar e continuei a efectuar as sessões de fisioterapia, estas já haviam passado de 3 vezes por semana para apenas duas… já tinha imensas saudades de Lisboa e de voltar ao trabalho, no fundo de recuperar a minha vida… Eu não tenho feitio para estar parado e ter sempre tudo feito, já há muito que não cozinhava…é algo que sempre me deu prazer em fazer…de ter as minhas coisas por perto…. sobretudo os meus CD’s….o meu espaço…
O dia do meu aniversário coincidia com o jantar de Natal da Novis, a Liliana ligou-me a perguntar se não queria ir ao jantar, Eu respondi que sim, apenas que necessitava de boleia…ela prontamente se disponibilizou para me dar boleia. Fui para Lisboa uns dias antes para me voltar a ambientar…nesta altura já o meu irmão estava a partilhar casa comigo e com o Bruno, foi muito bom ter o meu “miúdo” por perto…. se até aos 16 anos do meu irmão, éramos um pouco afastados devido à nossa diferença de idade, depois dessa altura começamo-nos a aproximar muito e com tudo o que se passou ainda fortaleceu mais essa relação de Irmãos!!!
No dia 21 após ter recebido imensas mensagens e telefonemas a darem-me os parabéns, depois de ter almoçado fui ter ao trabalho para rever os Amigos e colegas de trabalho, depois fui de boleia com a Liliana para o local do jantar, nesse ano era no Instituto Superior de Agronomia, ao chegar recebo uma chamada de um numero anónimo…era a Lita a dar-me os parabéns, já pensava que se havia esquecido do meu aniversário…mas afinal não se tinha esquecido.
Foi muito bom nessa noite reencontrar grandes Amigos que já não via há muito.
No dia seguinte regressei a Tomar para passar o Natal em família, mas o meu pensamento já só era em regressar…

Gone

Acredito que o nosso destino está traçado à nossa nascença e que é como um labirinto…onde temos um ponto de partida e um ponto de chegada, somos livres de escolher o caminho que queremos seguir, vamos fazendo opções que nos levam por um caminho mais curto ou mais longo, com mais ou menos obstáculos, mas no fim acabaremos por ir ter ao ponto de chegada…quanto a isso julgo nada podermos fazer!
Depois de terminarmos o namoro, recordo-me das palavras do meu Amigo Paulo Guerra fazerem algum sentido, na altura em que as proferiu não me parecia que estivessem totalmente correctas…ele quando cruzou o meu mapa astral com o da Lita disse, que nós éramos almas gémeas, que já nos tínhamos encontrado por diversas vezes mas que sempre nos tínhamos feito sofrer um ao outro, que nesta vida Eu estava cá para a ajudar no Amor e ela a mim no trabalho, realmente neste momento essas palavras faziam todo o sentido…
Após termos terminado ainda continuamos Amigos e íamos beber café juntos aos fins de semana juntamente com a nossa Amiga Filipa.
Para estar totalmente terminada a ligação que nos unia, faltava somente separar as fotos dos 2 álbuns que tínhamos, estes estavam na minha casa em Lisboa…
No início de Novembro regressei a Lisboa, os meus pais foram pôr-me ao comboio depois de terem ido ver a minha avó paterna que estava internada no hospital, depois da visita vi o meu pai como nunca tinha visto, Eu como sabia que ela não estava nada bem não a consegui ir visitar…mas pressenti o pior devido à expressão do meu pai…
Quando cheguei a Lisboa, parecia que tinha uma casa nova….o meu padrinho tinha-a pintado e arranjado os tacos da sala que devido a infiltrações tinham inchado e descolado…
Fui ao meu local de trabalho rever alguns dos meus colegas de trabalho e Amigos, estive a beber café com a minha antiga colega do lado a Patrícia, estava um dia soalheiro de Outono, quando estávamos a beber café é que reparei nos seus belos olhos verdes…tínhamos trabalhado durante pelo menos 6 meses lado a lado e nunca tinha reparado…
Em casa separei as minhas fotos das da Lita, cada um ficou com um álbum, Eu fiquei com as fotos onde exclusivamente aparecia só com a excepção da foto do casamento do meu “Irmão”, todas as outras meti num saco juntamente com um álbum para entregar à Lita.
Depois de ter passado uns dias em Lisboa, regressei a Tomar onde tinha uma prenda à minha espera….o Miguel tinha lá estado no fim de semana para me visitar e entregar uma cópia do novo álbum dos U2 que ainda estava para sair…recordo-me de pegar no CD e ir para o meu carro ouvi-lo….a canção “Miricle Drug” ficou-me logo no ouvido…depois de o escutar fiquei ansioso para que saísse…fiz logo uma pré-reserva da edição especial pela net no site da fnac.
Tinha também chegado a altura de fazer uma nova limpeza na minha gaveta das recordações…onde ainda guardava os vários postais e cartas que a Lita me tinha escrito durante aqueles quase 5 anos, meti tudo num caixote e queimei!!!
No dia 15 de Novembro a minha avó acabou por falecer, apesar da tristeza de ter perdido mais um dos meus avós, sentia um alívio enorme…a minha avó já não vivia, sobrevivia em enorme sofrimento…é esta a razão pela qual Eu sempre defendi a Eutanásia, se esta fosse permitida a minha avó tinha tido uma morte com muito menos sofrimento!
Todos estes acontecimentos mexeram com o meu sistema nervoso…embora eu me tivesse mantido aparentemente calmo, na verdade havia um turbilhão de sentimentos dentro de mim, que fizeram realçar uma sequela do Aneurisma que até aí era imperceptível…

Love is Blindness

Em Setembro recomeçaram as aulas da Lita, recordo-me de ir com o Emanuel pô-la a Santarém…
Nesta altura dei por mim a pensar no que a minha vida se tinha tornado…Eu que sempre tinha tanta coisa para fazer, nesta altura senti-me como a maior parte dos idosos do nosso país se sente… um inútil, os meus dias eram passados da seguinte forma, acordava, tomava um duche, almoçava e ia beber café com os meus pais…tirando os dias em que tinha fisioterapia pouco fazia a não ser estar sentado no sofá a ver televisão…ainda por cima em Tomar estava limitado aos 4 canais…via os morangos com açúcar e à noite as novelas com a minha mãe…
As coisas com a Lita também não estavam muito bem…tudo terá começado com aquele sms…mas depois durante aquele período menos bom que atravessei afastei-me um pouco de tudo e de todos…não fui aquele namorado a que a Lita sempre esteve habituada, aquele Luís com um espírito sempre positivo, alegre e que conseguia motivar os que me rodeavam, sobretudo deixei de conseguir passar a minha força para ela, deixei de ser o namorado sempre presente quando ela precisava…
No dia 9 de Outubro fazíamos 4 anos e 9 meses de namoro, ao contrário do habitual não fizemos nada de especial para assinalar a data… era um sábado, depois de almoço fui ter com ela, passamos a tarde juntos, fomos beber café como de costume, demos uma volta pela cidade e fomos para casa dela onde acabei por jantar, ela estava cansada e Eu também não tinha muita vontade de sair, estivemos mais um pouco e acabei por ir para casa.
No dia seguinte, Domingo dia 10 de Outubro à hora de almoço recebo um sms do David a perguntar se alinhávamos ir novamente para a Figueira passar a passagem de ano…
Depois de almoçar fui ter com a Lita e fomos beber café, de seguida fomos às compras ao Modelo para a mãe dela, no regresso a casa falei-lhe do sms do David, ela não se mostrou com vontade de ir ao contrário do que Eu pretendia, gerou-se um clima pesado…durante uns minutos ninguém disse uma palavra…em simultâneo voltámo-nos um para o outro e dissemos simplesmente “precisamos de falar”, quando chegámos tivemos a conversa que era inevitável pois ambos já tínhamos sentido que era o “The end of the road” não fazia mais sentido estarmos juntos porque o amor que nos uniu já era apenas uma “miragem”.
Tivemos uma conversa muito séria, onde ambos chegámos à conclusão que o melhor seria cada um seguir o seu caminho….e que tínhamos sem qualquer dúvida sido muito importantes um para o outro!
O medo da Lita era de não ficarmos Amigos…Eu no início do nosso namoro tinha dito que para mim quando acaba, acabou e adeus…never see you again! Isto devia-se ao meu relacionamento anterior…
Acabámos curiosamente no dia de aniversário da Novis e sem nunca termos discutido…acabámos Amigos e a despedida foi com um grande beijo por tudo o que passámos juntos…foi a ultima vez que beijei aqueles lábios…

Sometimes You Can't Make it On Your Own

Neste momento menos bom que atravessei foi superado muito graças ao apoio incondicional de todos os meus Amigos!!!
Em meados de Agosto recomecei a fisioterapia no Hospital de Tomar, em Tomar infelizmente não havia terapeutas ocupacionais, então passei apenas a fazer fisioterapia com a terapeuta Rosário, trabalhávamos essencialmente o equilíbrio, fazia também alguns “jogos” para colmatar a ausência da terapia ocupacional.
Um deles consistia em retirar porcas de parafusos que estavam encastrados num tabuleiro de madeira e depois voltar a colocá-las novamente nos parafusos, este exercício servia sobretudo para estimular e voltar a utilizar a minha mão esquerda como o fazia anteriormente…de início tinha grandes dificuldades sobretudo nos parafusos mais estreitos mas com o passar do tempo as coisas foram melhorando.
No dia 20 de Agosto fomos festejar o 27º aniversário do Pedro Anjos, no restaurante junto ao prédio dos pais, nesse dia havia passado a tarde com a Lita, ela não quis ir ao jantar, mais uma vez não ia estar presente no jantar de aniversário de um dos meus Amigos…
Eles foram-me buscar a casa dela e fomos para o restaurante, recordo-me de rever alguns Amigos que já não via há muito, o Duarte, o Carrão, a Tita, o Xane.
Depois do jantar ainda estive um pouco com eles na conversa, depois foram-me por a casa da Lita a meu pedido.
Com a recuperação exponencial que estava a ter…em Setembro comecei a conduzir!
Este foi o primeiro passo rumo à minha independência…
Por esta altura também recebi um telefonema de um nº confidencial, quando comecei a falar não reconheci a voz…a conversa foi-se desenrolado e Eu continuava sem saber com quem estava a falar…até ao momento em que me perguntam se Eu sabia com quem estava a falar…Eu respondi que não fazia ideia…então dizem-me “já não conheces a tua Amiga Ana Basto!”, eu respondi “claro que conheço, apenas não estava a reconhecer a tua voz…” ali ficámos um bom bocado à conversa e a promessa que em breve estaria de regresso a Lisboa ficou feita!
Foi sem dúvida o apoio dos verdadeiros Amigos que me ajudaram a ultrapassar este momento menos bom, mesmo sem terem dado por isso, só o simples facto de existirem ajudou…Acreditem que ajudou muito!!!

I Fall Down

Ao chegar à Beberriqueira aguardava-me umas belas sardinhas assadas pela minha avó Ana. Recordo-me que quando recuperei a consciência e me perguntaram o que é que eu comer queria comer, Eu respondi Sardinhas assadas! Era algo com que Eu andava com vontade de comer antes de ter a rotura do Aneurisma, pois nos Santos Populares não tinha comido!
No dia seguinte, quis ir cortar o cabelo…ficou quase rapado a meu pedido, porque no processo de embolização levei alguma radiação que me fez cair o cabelo do meu lado direito por cima da orelha e na parte de trás sobre o lado direito…ao passar a mão sobre aquela parte parecia q estava a passar a mão pela cabeça de um bebé…



Eu como morava fora da cidade a cerca de 7/8 Km estava dependente da boleia do meu pai ou do meu irmão para estar com a Lita, como o meu pai trabalhava por turnos custava-me estar a sempre a pedir-lhe para me dar boleia…houve dias em que a Lita veio ter comigo a minha casa, o Emanuel também se dispôs a dar-nos boleia…
Para mim, que sempre havia sido independente, custava-me estar nesta situação… dependente da família, dos Amigos…
O jogo realizado no estádio municipal realizado para homenagear o meu AMIGO Vivas, que infelizmente havia falecido um ano antes num acidente de viação, punha frente a frente os Amigos e o União de Tomar (Clube onde jogava), Eu tinha uma vontade enorme de participar na homenagem, mas infelizmente ainda não conseguia jogar futebol, por isso estive na bancada, a ver jogar…
Foi precisamente nesta altura que me deixei ir um pouco abaixo…pois não sabia se poderia voltar a fazer uma das coisas que mais gostava de fazer…jogar futebol!

O Regresso a Casa

No final de Julho faziam-me recolhas de sangue diárias para verificar se a meningite estava curada, após se ter verificado que já estava bom restava esperar que me fosse dada alta.A Dra Cláudia era a médica que me tinha acompanhado durante os últimos tempos, durante o período em que o Dr Domingos Coiteiro esteve de férias, quando ele regressou foi-me avaliar e disse-me que após realizar uma angiografia de controlo e se o resultado fosse positivo me daria alta.A angiografia estava marcada para dia 2 de Agosto, no dia anterior raparam-me ambas as virilhas, o enfermeiro que o fez, era um espanhol que se começou a meter comigo, perguntando se a minha namorada ia gostar do novo visual…Na manhã seguinte fui em jejum fazer o exame, ao chegar ao local parecia que estava a ter um “dejá vu”, os rostos eram-me familiares…embora no dia 21 de Junho quando realizei a primeira angiografia após ter sido embolizado estar meio inconsciente, recordava-me do rosto de várias pessoas…
O exame consistia em introduzirem-me um cateter numa artéria que passa na virilha e aí introduzir uma tintura, chamada meio de contraste que permitiam ver se o aneurisma tinha sido excluído através de um monitor, aí podia-se observar todos os vasos sanguíneos do meu cérebro.
Quem me realizou o exame disse-me que estava tudo bem, inclusivamente Eu próprio pude ver no monitor que estava tudo bem, agora restava esperar…
Depois disto, Eu esperava sair no dia seguinte logo pela manhã, a minha tia Benvinda fazia anos e iam todos almoçar juntos para festejar, todos pensavam que Eu também iria…no entanto apenas tive Alta a meio da tarde, nesse dia ainda tive terapia ocupacional com a terapeuta Marisa que substituiu a terapeuta Liliana que se encontrava de férias, a terapeuta Marisa ensinou-me algumas técnicas para Eu realizar em casa de forma a recuperar o que ainda faltava.
Acabava assim a minha estadia de 48 dias naquele “hotel” a quem não desejo a ninguém por razões óbvias.
Quero apenas agradecer a todos aqueles que contribuíram para o meu bem-estar, pela simpatia, profissionalismo que demonstraram ao longo destes 48 dias, começando pelo Enfermeiro João (que grandes corridas fizemos nós pelos corredores do hospital de cadeira de rodas), às Enfermeiras, Cristina (Enf Chefe), Liliana, Cristina e Fernanda que todos os dias me fazia a recolha de sangue, bem como de todos os outros de quem agora não me recordo do nome! À Fisioterapeuta Paula, às Terapeutas Ocupacionais Liliana e Marisa e claro à Auxiliar, dona Margarida que todos os dias me preparava o pequeno almoço e o lanche.
Saí do hospital já pelo meu próprio pé em direcção ao Parque de estacionamento onde o a minha tia e o meu primo João me aguardavam…entregaram-me um postal que me emocionou com as palavras que lá continham…entregaram-me também uma T-Shirt que o meu primo Bruno e a namorada tinham feito, nela podia-se ver um grande smile e a seguinte inscrição “Smile to Life”.
Depois deste momento carregado de emoções…despedi-me de todos e regressei com os meus pais a Tomar.